domingo, 28 de março de 2010

O que se tem feito por cá

Passaram-se já 3 meses desde que decidimos "fazer de conta" que viemos para cá. Singapura. "Porque é uma localização perfeita para quem quer descobrir esta região, poder comunicar facilmente através do Inglês e economicamente é um pólo de referência da Ásia, e até a nível mundial". Sim, é este o chavão que pregamos assim que nos perguntam: "Mas porquê Singapura, porque decidiram vir para cá e não para outro sítio no mundo?". É claro que o pensamento do nosso dia-a-dia não é tão cliché ;) Neste momento, saboreamos as coisas mais simples. Passados 3 meses, sente-se já um cheirinho a casa, aqui por estes lados. Começamos a habituar-nos a pequenas rotinas, às pessoas, a ir ao supermercado fazer compras, a sair, a viver o dia-a-dia. Tem sido impossível fazermos uma actualização constante de todas as experiências que por cá temos tido. Mas afinal de contas, o que se tem feito por cá mesmo nestes últimos meses? Em 3 meses quais são as pequenas curiosidades / situações / pormenores, cenários com que nos deparamos e caracterizam o nosso dia-a-dia? Aproveitamos este post para vos actualizar:

Mudança de apart
amento
Pois é, apesar de te
rem-se passado somente 3 meses, já mudámos de apartamento. Neste momento estamos localizados numa zona muito mais central da cidade, chamada Lavender, ou Lavanda, em Português. Não cheira a lavanda mas é muito conveniente para poder chegar a muitos pontos de interesse. Inclusivé a pé chega-se em 5 minutos à zona de Little India que já conhecem de um post que fizémos anteriormente, Uma amostra da Índia em Singapura; estamos igualmente perto de Bugis, que proporciona mais animação, com centros comerciais, cafés e restaurantes, uma feira local, a biblioteca nacional e um cenário mais citadino. Imaginem só que é aqui que está o edifício Parkview Square Building, o célebre edifício usado nas filmagens do filme Batman! Pusémos uma imagem aqui só para vos relembrar! Este edifício era suposto ser um hotel, mas tornou-se um centro de escritórios. Imaginem só o que será trabalhar aqui todos os dias. A entrada é magnífica, com estátuas de célebres da história, como Lincoln, Mozart, Aristoteles, etc... Um edifício mítico sem dúvida.
À volta de Lavender existem mais escritórios e pequenas empresas, se bem que é ainda uma zona residencial. Temos mesmo em frente o estádio de Jalan Besar onde 1 a 2 vezes por semana é palco de jogos e onde temos oportunidade de vez em quando ouvir os gritos de golo. Esta área também proporciona zonas de lazer, ou onde se pode praticar exercício físico, como o clube da comunidade Jalan Besar, no qual por um preço simbólico se pode ir ao ginásio, ter aulas de artes marciais, ou até aulas de culinária local. A poucos minutos está também um parque, que se estende pelo rio e onde se pode correr e em 12-15min chegar quase ao centro da cidade (a correr claro). Ainda bem perto está também a Arab Street, ou rua Árabe, onde se nota a influência muçulmana, com algumas mesquitas e escolas locais. Uma área que proporciona pequenos esconderijos gastronómicos muito interessantes! Estamos convenientemente localizados perto do metro, por isso, se quisermos ir para mais longe, é rápido ;). Neste momento vivemos numa casa com um casal Indiano-Ucraniana e com mais um Bósnio que tem passado quase toda a sua vida na Suécia. Uma "família" bastante diversificada e que nos tem proporcionado serões muit animados.

Alguns bares em Singapura
Já tivémos oportunidade de explorar algumas zonas de bares em Singapura, mas desta vez a partilhar
três deles, mais pelo tipo de experiências que nos proporcionam.
  • The Mind Cafe - um bar / café / restaurante situado na zona de Boat Quay (na imagem), mais propriamente na margem direita, onde existem vários restaurantes e bares. É um bar muito calmo, onde oferece uma quantidade espantosa de jogos de tabuleiro desde os mais conhecidos, como damas, xadrez, monopólio, risco, pictionary até muitos jogos que não conhecemos. Muito divertido e garantidamente um serão bem passado para por quem lá passa. Organizámos já um encontro por lá com alguns amigos e adorámos. Esta zona é uma das mais turísticas de Singapura (Boat Quay, Clarke Quay), mas ainda assim tem bastantes cantos e recantos onde se podem encontrar sítios como este. Na imagem, estes bares são os prédios baixos, na margem do rio, com o cenário por trás do distrito financeiro de Singapura.
  • Union Square - Este é um bar de Salsa, também numa zona bastante central da cidade. É um bar relativamente escondido, já que está no último andar de um centro comercial antigo, onde apenas se consegue lá chegar por um elevador também não muito convenientemente localizado. Depois de pedirmos indicações várias vezes a algumas pessoas de como lá chegar, experienciámos um dos melhores bares de danças latinas da cidade. Tem uma banda cubana a tocar canções de salsa, merengue e bachata, e tem uma pista para se dançar. Ficámos admirados com a perícia dos locais a dançar. Ainda que não muito latinos, demonstram uma técnica muito apurada e convidam facilmente as raparigas a dançar. O bar é bem moderno e vale a pena lá passar. 17 dólares de entrada com direito a 2 bebidas, bastante bom para os amantes das danças latinas.
  • Nabins - Outro bar bastante relaxante e bom para quem quer passar o serão na conversa. Mencionamos este bar porque temos ocasionalmente tido alguns eventos de um grupo de amigos muito interessante, que organiza discussões diversas sobre alguns temas da actualidade. Esse grupo chama-se ProAction Cafe, e daí temos conhecido no geral as pessoas com quem mais nos identificamos e temos mantido contacto. É assim a vida em Singapura. Conhece-se mesmo muita gente. É uma cidade muito animada e onde as pessoas estão muito predispostas a conhecer novas pessoas.
Experiências gastronómicas
O Durian. Sim, um terror para muitos. Exala um cheiro nauseabundo, enjoativo a tal ponto que é explicitamente proibido em transportes públicos e locais fechados. Em Singapura, o país das multas, o Durian não poderia ser excepção e para quem infrinja esta lei, é no mínimo expulso dos locais e em alguns casos pode ter que pagar coima. É assim este fruto. Com um tamanho de um pequeno melão, aspecto espigoso por fora, e por dentro com umas sementes com uma massa à volta que se assemelha em aspecto e textura a queijo derretido, é uma iguaria saborosa para bastantes locais, e intragável para a maioria dos "camones", ou seja pessoal de fora. Qual foi a surpresa das surpresas? O Sr. Tiago tinha que provar e... ADOROU! Pois é! Passada a fase de choque do cheiro, onde o nariz literalmente fica insensível ao cheiro, apenas resta o paladar. E de facto este fruto é saborosíssimo! Mas atenção, muito diferente do que poderá estar-se à espera. A não ser que queiram aproveitar a dica para se prepararem: parece queijo derretido.

Experimentámos também outra iguaria local, as pernas de rã. Sinceramente, nada de extraordinário. Diz-se que sabe muito a galinha. Achámos que galinha sabe bem melhor. Até estranhámos alguma falta de paladar da carne de rã, muitas vezes acompanhada por uma molhenga à base de soja para lhe dar sabor. É uma carne algo fibrosa, por isso passado algum tempo pode-se ter uma sensação ligeiramente desconfortável entre os dentes. Mesmo assim, passa o teste. Não achámos uma experiência magnífica, e muito mais provavelmente haverá uma nova experiência de Durian do que de rã.

A organização
Quanto mais tempo passamos por cá, mais nos apercebemos e mais histórias ouvimos de que realmente Singapura é uma máquina engenhosamente criada, que funciona muito bem. A cidade é organizada, as zonas verdes cuidadosamente planeadas e por isso abundantes no cenário citadino. Se um arranha-céus de 50 andares já tem 15 anos e já não se adequa a uma certa zona da cidade, pois então deita-se abaixo e substutui-se por uma obra arquitectónica muito mais moderna. A cidade não pára. Seja na construção de novos edifícios gigantescos até ao mais pequeno dos pormenores como um buraco na estrada, numa questão de dias já lá não estará. Se um dia verificarem um trilho num relvado desgastado porque as pessoas sentem a necessidade de passar por esse local, e se passado uma semana esse trilho for substituído por uma calçada, não se admirem. É assim que Singapura funciona. Uma cidade constantemente atenta e pronta a melhorar no que toca a infrastruturas.
Queixam-se muito ainda das filas de trânsito (tipo 10 minutos parados no trânsito). O que se calhar não sabem é que na Europa e já para não falar noutros sítios como América do Sul é bem pior. O país está neste momento a tentar ainda travar o excesso de carros que existe, através de impostos e licenças muito caras para os condutores. Ainda assim investem na construcção de túneis gigantes para melhorar a circulação.
Crime? Muito baixo. Em sítios como o metro passam vídeos constantemente de alerta ao cidadão para observar comportamentos estranhos dentro do metro ou fora. A segurança pública é um tema constante. A lei é eficaz e os processos judiciais demoram muito pouco a ser resolvidos. Qualquer decisão que o governo toma, é rapidamente executada e vêm-se imediatamente as consequências disso. É isto que ouvimos das pessoas, das empresas.

As pessoas e a cultura
Bem, o que dizer deste capítulo? 3 meses dá apenas para perceber algumas coisas superficiais. Pormenores. E é de pormenores que vamos falar:
  • Arrotar em público: Uma prática bastante comum. Arrotar na biblioteca? É como respirar. Só falta haver concursos de arrotos na igreja.
  • Fazer barulho ao comer: Aparentemente, e pelo que já tínhamos ouvido falar, quanto mais barulho se faz, maior é o sinal de agrado em relação ao sabor da comida. Pois, são capazes de pensar que os Europeus detestam a comida local...
  • Inglês: Falar Inglês no ambiente de trabalho? Se o caso for uma empresa local, então é melhor esquecer o assunto. Entre falar chinês e Singlês (que é como eles chamam ao inglês deles) venha o diabo e escolha. Já aconteceu em ambiente de reunião não perceber 50% do conteúdo desta. Mesmo tendo perguntado por várias vezes "Desculpa, podes repetir?". Sim, e a reunião era em "Inglês"... criolo.
  • Segregação: Extremamente evidente, a separaçãoprincipalmente entre a cultura chinesa e a indiana. Há uma separação a todos os níveis: É raríssimo ver um casal misturado chinês / indiano. É raro ver chineses viver com indianos. Na empresa onde me encontro (Tiago) não há um único indiano. Em empresas de origem indiana onde tive entrevistas raramente tenho visto chineses. Vimos na rua, em pleno food court (restaurante local) reuniões entre chefes chineses e empregados indianos, que discutem de uma forma condescendente. Enfim, é uma realidade evidente não só para nós, mas também dos testemunhos que temos tido de estrangeiros por cá. Ainda assim, há excepções. Regra geral, singaporenses, indianos que tenham tido experiência fora da região não se comportam desta forma.
  • Dentes: No outro dia, no metro, deparámo-nos com um local que ria-se desalmadamente no metro, ao ver um anúncio num placard que mostrava uma rapariga vestida à miss mundo, muito vistosa, condecorada com a sua coroa, que sorria para a câmara. Ostentava no entando uma boca com os dentes completamente podres, de uma ponta à outra. Este e outros anúncios do género têm sido postos na rua para sensibilizar as pessoas a tratar da sua dentição e dos seus. É muito frequente encontrar pessoas que se descuidam completamente neste aspecto, infelizmente. Queixam-se do preço dos dentistas face a outras especialidades médicas, e tal como em Portugal, a maior parte dos seguros não inclui esta especialidade.
  • Cortesia: Em alguns aspectos notam-se sinais de cortesia muito fortes que perduram mesmo nas gerações mais novas. É frequente, quando um empregado de um bar entrega o talão da conta, fazê-lo sempre com as duas mãos. Normalmente só usamos uma mão para entregar qualquer coisa, certo? Aqui é sempre com as 2 mãos. Se estamos numa reunião de negócios e vamos entregar o nosso cartão (a propósito aqui TODA a GENTE tem CARTÃO DE NEGÓCIOS!!) é bom que o façamos com as 2 mãos. Entrega-se e recebe-se o cartão com as 2 mãos. Em alguns casos, os locais baixam inclusivé a cabeça em sinal de vénia.
  • O consumismo de Singapura: Filas nas lojas da Luis Vuitton. Ar Condicionado a tranformar os inúmeros centros comercias da cidade em quase arcas frigoríficas. Iluminação ostentosa dos edifícios durante a noite. Um pacato bairro local tem centenas de lojas locais mas está a mais de 1 Km do próximo centro comercial? Sem problema, contrói-se um centro comercial novo de 4 ou 5 andares para animar a malta. Taxas altíssimas para quem conduz? Ainda assim há bastantes carros em Singapura. Álcool caríssimo? Ainda assim consome-se muito nos bares. Bem, Singapura tem sim, o seu lado consumista. Não há ainda muita sensibilização para questões ambientais, como a separação do lixo (já se vê, mas ainda muito pouco) ou poupança de energia.
  • As festividades e os feriados: Tão intercultural que acabam por se celebrar os principais feriados sejam da cultura budista, hindu, muçulmana. É frequente até, se um feriado calha num fim-de-semana, que a maioria das empresas dê a segunda-feira seguinte, ou a sexta-feira anterior aos seus trabalhadores. E mesmo que não se trato de feriados, mas comemorações das culturas mais fortes no país (falando da Commonwealth), festeja-se mesmo o St. Patrick's Day da Irlanda. Tivémos oportunidade de assistir infelizmente já ao fim da parada, com músicos pela cidade, que acabou ao pé da zona de bares (previsível), nomeadamente de bares Irlandeses.

Enfim, a cidade tem os seus prós e os seus contras - assim também o é em outros locais do mundo. Ainda assim, os pontos menos positivos não chegam para ocultar os pontos positivos. Em muitos aspectos, a cidade, o sistema funciona perfeitamente. É muito frequente ouvir isto de quem vem de fora. E é uma realidade a que realmente um estrangeiro (vulgo não asiático) rapidamente se adapta. Mesmo em tempos de crise, Singapura mostra sinais de retoma claros. Para criar família é uma cidade que oferece boas condições, espaços verdes, segurança, sistema de saúde que funciona, várias opções a nível de escolas, institutos de educação superior até de classe mundial. Começam-se a ver mais casos de estrangeiros que ficam cá por períodos mais prolongados, ao contrário do passado. Nos pormenores culturais mais sórdidos, por enquanto, para nós, dá para rir. De resto, é aproveitar a experiência o melhor que se puder ;) e por enquanto tem valido muito a pena fazer de conta que viemos para Singapura.

1 comentário:

  1. Meninos, o vosso blog está muito bom, estou a adorar!
    Espero que estejam felizes e parecem-me estar! =)
    Eu já estou na altura de entregar as fitas de final de curso! Para onde envio? LOL
    Continuem o bom trabalho e muita sorte!


    Beijinhos
    Sílvia

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